Mohannad El-Khairy
Tradução de Francisca Macias
Então, aqui estamos nós.
Em Israel, um dos governos mais reacionários retomou a política do apartheid de Olmert; Benjamin Netanyahu à frente do que pode ser considerado simplesmente como uma administração fascista e claramente racista, formou com esse Avigdor Lieberman e Cia. a maioria num governo de coligação. Já em 2003, quando ocupava o cargo de Ministro dos Transportes no governo de Sharon, Lieberman declarou no Knesset (Assembléia) que todos os Palestinos detidos nas prisões de Israel deveriam ser afogados. Suponho que foi o povo israelita quem falou. Entretanto, os dados demográficos são significativos. Cerca de 280.000 colonos judeus, que crescem a uma taxa de 5% ao ano, vivem na Cisjordânia, num local estratégico controlando mais de 2,5 milhões de palestinos. Eles são protegidos pelas Forças de Ocupação Israelitas, consideradas ilegais desde há mais de 42 anos após a resolução 242 das Nações Unidas, que, no seu 1º ponto, apela à “ retirada das forças armadas israelitas dos territórios ocupados no recente conflito (de 1967)”. No entanto em 2006 o número de barricadas e ‘checkpoints’ na Cisjordânia aumentou 40%, com 528 ‘checkpoints’ permanentes e temporários e barricadas, frustrando a vida dos Palestinos em todos os aspectos, de acordo com o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários em Jerusalém (OCHA). Isto, por definição, é Apartheid.
As negociações para uma solução de dois estados, considerada a resolução do conflito Israelo-Palestino durante décadas, parecem ter sido reavivadas nestes tempos de “Esperança e Mudança”. No entanto esta “solução” nunca foi pensada para ser solução.
Uma pequena lição de história revisionista irá ajudar a clarificar este ponto. No livro “A Limpeza Étnica da Palestina”, o professor e historiador israelita Ilan Pappe demonstra que a questão da solução dos dois estados remonta a quando foi introduzida a primeira vez como um conceito, com o Plano de Partilha das Nações Unidas de 1947 (Resolução 181). Em Novembro daquele ano, as Nações Unidas propuseram dividir a Palestina em três partes: em 42% do território, mais de 800.000 palestinos iriam ter um estado que incluía 10,000 judeus, enquanto um novo Estado Judaico seria criado em quase 55% do território que iria assimilar 500.000 judeus e 438.000 palestinos, respectivamente. A terceira parte consistia num enclave que continha Jerusalém, a ser administrado internacionalmente pelas próprias Nações Unidas.
De um modo geral, ensinaram-nos que os judeus aceitaram o plano; os árabes rejeitaram-no, e assim Israel declarou a independência, então os exércitos Árabes invadiram, a guerra começou e Israel triunfou contra todas as expectativas.
Contudo, a pesquisa de Pappe defende uma perspectiva inteiramente diferente: “O equilíbrio demográfico dentro do estado judaico estabelecido (proposto na Resolução 181 das Nações Unidas) era tão grande que, se o mapa tivesse sido de fato implementado, ele teria criado um pesadelo político à liderança sionista: o Sionismo nunca teria atingido nenhum dos seus principais objetivos”. Pappe faz uma citação de Simcha Flapan, um dos primeiros judeus israelitas a pôr em causa a versão convencional sionista dos acontecimentos de 1948, ao dizer que se os árabes/palestinos tivessem decidido aceitar a Resolução da Partilha, “ os chefes judeus teriam de certo que rejeitar o mapa da UNSCOP (Comissão Especial das Nações Unidas sobre a Palestina) que lhes foi oferecido”.
A razão para isto está no próprio plano dos primeiros fundadores de Israel. David Bem Gurion, o primeiro primeiro-ministro do estado colonial, já tinha tencionado fazer uma Palestina puramente judaica – mesmo antes do Plano de Partilha da UN de 1947. Depois de reuniões regulares com o seu “gabinete de crise”, formado ad-hoc por um grupo de oficiais judeus que tinham servido no exército Britânico, ele escreveu uma carta em Outubro 1947 (um mês antes da Resolução 181) ao General Ephraim Ben Artzi, o oficial de mais alta patente de entre eles, explicando que queria criar uma força militar capaz de repelir potenciais ataques dos estados árabes vizinhos e ao mesmo tempo, “ocupar tanto território do país quanto possível, e com sorte, seria todo”. Esta perspectiva tinha até sido ratificada como doutrina oficial sionista, cinco anos antes, durante a Conferência de Biltmore realizada em Nova York de 6 a 11 de Maio de1942. O Programa Biltmore resultante definia o espaço como “o território geográfico (que) o movimento sionista cobiçava, por outras palavras, toda a Palestina”, observa Pappe.
Hoje, a colonização na Cisjordânia está a expandir-se a um ritmo recorde. O jornalista Khalid Ammayreh, que vive em Ramalah ocupada, descreve-a como a mais intensa expansão de colônias desde 1967, sugerindo efetivamente o fim da solução dos dois - estados, numa entrevista a Abdul Hadi Hantash, um especialista na proliferação de colônias judaicas em territórios ocupados. Hantash diz que Israel está a mentir claramente acerca das suas atividades na Cisjordânia, quanto a iniciativas tais como o projeto de mais 73.000 habitações na Cisjordânia e a judaização de Jerusalém Leste; como se fosse uma questão vulgar, a Peace Now – um grupo de apoio israelita que trata da confiscação de terras e da expansão de colônias – também confirma os números de Hantash.
No entanto, como se observou atrás, os dados demográficos falam por si. “O programa de televisão “60 Minutos” transmitiu recentemente uma reportagem intitulada “ Is Peace out of Reach”( a paz está longe de ser alcançada). O repórter afirma que entendidos em demografia prevêem que dentro de dez anos os árabes irão exceder em número os judeus, em Israel, Cisjordânia e Gaza”. Houve mesmo um estudo realizado pela CIA lançando a dúvida sobre a própria sobrevivência de Israel, a partir dos próximos 20 anos. O relatório da CIA prevê “ um inexorável movimento que diverge da solução dos dois estados a favor de um estado, como o mais viável modelo baseado nos princípios democráticos de plena igualdade, que afasta o espectro ameaçador do apartheid colonial, enquanto permite o retorno dos refugiados de 1947/1948 e 1967. Sendo o último pré-requisito para uma paz duradoura na região”. A solução de um estado é a única solução, mas ela significará efetivamente o fim do estado judaico, mostrando, por último, a verdadeira natureza do plano sionista, os seus métodos brutais, e as suas ilegais e imorais políticas manipuladoras, para frustrar a população inocente e privá-la, de outra forma, dos seus direitos naturais. Sendo a própria base da razão de ser de Israel, o plano sionistade limpeza étnica dos palestinos processou-se em duas grandes vagas, a primeira em 1948 e depois em 1967. Com colônias a expandirem-se a um ritmo recorde, e um governo dos mais reacionários da história de Israel, estará a ser preparada a terceira vaga, a mais devastadora e detalhada de sempre? Estará a transferência em massa de palestinos da Cisjordânia e de Gaza, a ser traçada discretamente, para contrariar o desequilíbrio demográfico? E se uma “solução” de dois estados for implementada para finalmente “resolver” um dos conflitos mais brutais da história contemporânea, não iria o governo Palestino em Ramalah, financiado pelos Estados Unidos e dominado pelo fantoche Israel, continuar a submeter-se às ordens sionistas, à expansão de mais colônias, a mais políticas sócio econômicas em vez de oprimirem os palestinos, e a passar procuração a mais injustiças? E se o Povo se revoltar, será então a carta branca e o pretexto de que o Estado Apartheid está esperando para justificar os seus objetivos expansionistas da Eretz Israel (Terra de Israel)? Tantas questões com tantos resultados possíveis…
A questão de fundo é esta: o único objetivo do estado de Israel é tomar posse do país inteiro e exterminar a sua população natural. Nunca houve uma intenção israelita de viver lado a lado e em paz com os palestinos. Desde o princípio, o Eretz Israel – ou o Grande Israel – sempre foi e continua a ser o último objetivo. O jogo final de Israel é tornar os Palestinos nos Índios da América do Norte; um povo esquecido disperso e sem nenhuma esperança de reconquistar a sua pátria, e ainda menos de usufruir do seu rico patrimônio e cultura. De fato, ele já faz uso do vestuário tradicional, comidas, música e dança palestinos, como parte da “nação israelita etnicamente diversa” – uma nação construída sobre a identidade roubada a outro.
Enquanto a comunidade internacional procura defender a idéia da solução de dois estados, Israel continua a capitalizar as divisões políticas palestinas, e a repugnância do seu Povo em aceitar paz sem justiça.
Vamos recusar o truque dos dois estados, e adotar uma solução de um estado: os Povos da Palestina reclamam em voz alta, Liberdade, Paz, Direito ao Retorno e Igualdade, para as duas nações co-existirem e serem Vitoriosas.
Sobre o mapa: Jeff Blankfort, judeu foto jornalista e produtor de rádio, recebeu este mapa do jornal Jewish Week, como forma de publicidade ao Chabad Lubavitvh Community Centre em Manhattan. Blankfort escreve: “ Como muitos outros mapas que eu tenho visto há anos editados por organizações judaicas, seculares ou religiosas, para a comunidade judaica, não há nenhuma Linha Verde. A Cisjordânia ou Gaza não estão demarcadas. É tudo Israel”.
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- Mohannad El-Kairy cedeu este artigo ao PalestineChronicle.com
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