Além do Cidadão Kane

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Para sair da crise, não permite que reduzam teu salário !

Dominique Sicot

Traduzido por J.A. Pina/Rosalvo Maciel

Aceitar reduzir o salário para preservar sua empresa ? O gesto é apresentado como solidário. Mas, de fato, é o melhor meio de incrementar a recessão.

É a crise. Para sair dela é preciso, nos dizem, apertar o cinto e ajuda-se mutuamente. Por exemplo, aceitar a redução do salário para salvar a empresa. Que outra coisa fazer para preservar os empregos quando a atividade se reduz e a quantidade de negócios diminui ? É questão de senso comum! Por meados de Abril, para evitar um plano social, os assalariados da Poclain Hydraulics, uma media empresa de Oise, aceitaram, com esta lógica, reduzir seu tempo de trabalho em 20 % e diminuir seu salário em 5% para as remunerações mais baixas e em 15% para as mais altas. Se faz o mesmo nas multinacionais. O sindicato estadunidense UAW aceitou reduções salariais para tentar salvar a General Motors e Chrysler. A Toyota reduziu em 5% os salários de seus quadros nos EE.UU. e em 10 % os do conjunto de assalariados do Reino Unido. Na Europa como nos EE.UU., Hewlett-Packard reduziu em 10% as remunerações dos quadros superiores e em 2,5% as dos empregados.
Sempre em nome da crise, três governos europeus decidiram fazer um corte nos pagamentos dos funcionários : Irlanda (-7%), Hungria (-8%), Letônia (-15%). Bons discípulos que merecem as felicitações de Jean Claude Trichet ! O presidente do Banco Central Europeu (BCE) havia sugerido, claramente, aos governos “a levar a cabo políticas corajosas de moderação de gastos, especialmente no item dos salários” (em 26 de Fevereiro). Já que não pode haver descuido na “prudência orçamentária”. Visto que os aumentos salariais no setor público no passado, “enviaram sinais equivocados às negociações salariais em outros setores”. A cartilha do BCE é simples : para permanecer competitivo, “é necessário um nível elevado de flexibilidade à redução dos salários e dos preços” para facilitar “o ajuste dos mercados nacionais de emprego aos imprevistos econômicos “. O ajuste com o “sempre menos” para os gastos públicos e os salários.
No entanto, em uma crônica publicada no “New York Times” (3 de maio), Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia 2008, nos devolve à realidade : “a redução dos salários é o sintoma de uma economia doente. E o sintoma pode agravar o estado de saúde da economia.” Ao aceitar reduzir seus salários, os empregados de uma empresa em dificuldade podem ter a ilusão de salvar seus empregos, ainda que a historia mostre que isto, de um modo geral, é temporário. Entretanto, se todo o mundo o faz, se consegue exatamente uma explosão de desemprego! É um dos paradoxos do capitalismo! Por que? Em teoria, se os empregados de uma empresa sacrificam seus salários, seu patrão poderá baixar os preços, tornar seus produtos mais competitivos, aumentar as vendas e por tanto o emprego. Mas, se todo o mundo faz o mesmo, não há vantagem competitiva, e a “pequena cadeia virtuosa” não alcança o objetivo esperado. A diminuição dos ganhos faz baixar o consumo e os empréstimos são mais difíceis de resgatar.
A isto se soma o efeito perverso das antecipações : os consumidores acreditam que os preços vão baixar mais ainda, as empresas que os salários baixarão mais ainda e então todo o mundo espera para consumir e contratar. É assim que se instala a deflação e a recessão. No Japão, os salários do setor privado baixaram em media mais de um 1% por ano de 1997 a 2003 e no país está instalada uma recessão econômica da qual ainda não saiu. Na França, já em 1935, o governo Laval conseguiu o mesmo ao reduzir em 10 % os salários dos funcionários e ao impor reduções de preços para tornar a França mais competitiva. Só houve um ponto positivo : esta cegueira ideológica contribuiu, sem duvida, para a chegada da Frente Popular.
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Original em L'Humanité

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