Fonte: uruknet Tradução de Francisca Macias
O sexto aniversário da invasão do Iraque é um triste motivo para se fazer o balanço - durante seis anos de ocupação, 1,2 milhões de cidadãos foram mortos, 2.000 professores universitários mortos, e 5.500 académicos e intelectuais assassinados ou presos. Há 4,7 milhões de refugiados: 2,7 milhões no interior do país e 2 milhões fugiram para os países vizinhos, entre os quais 20.000 médicos especialistas. Segundo a Cruz Vermelha, o Iraque é agora um país de viúvas e órfãos: dois milhões de viúvas como resultado duma guerra, dum embargo, de nova guerra com ocupação, e cinco milhões de órfãos, muitos dos quais sem lar (estimam-se em 500,000). Quase um terço das crianças iraquianas sofre de malnutrição. Cerca de 70 por cento das raparigas já não frequentam a escola. Os serviços médicos, não há muito tempo os melhores da região, paralisaram totalmente: 75 por cento dos quadros médicos abandonaram a actividade, metade dos quais fugiram do país e passados seis anos de “reconstrução” os serviços de saúde no Iraque ainda não reúnem os critérios mínimos.
Devido às munições com urânio empobrecido utilizadas pela ocupação, o número de casos de cancro e abortos espontâneos aumentou drasticamente. Segundo um relatório recente da Oxfam Internacional a situação das mulheres é a mais aflitiva. O estudo menciona que apesar dos comunicados optimistas publicados na imprensa, a situação das mulheres continua a degradar-se. Os bens mais elementares não são acessíveis. O acesso à água potável é um problema para largos sectores da população e a electricidade só funciona três horas em cada período de seis, e isto num país que foi em tempos uma nação de engenheiros. Mais de quatro em dez iraquianos vivem abaixo do limiar da pobreza e o desemprego é imenso (28,1 por cento da população activa). Além das 26 prisões oficiais, há cerca de 600 que são secretas. Segundo a União dos Presos Políticos do Iraque, mais de 400.000 iraquianos estão detidos desde 2003, entre os quais 6.500 são menores e 10.000 mulheres. A prática da tortura é muito elevada e cerca de 87 por cento dos detidos permanecem sem acusação. Grassa a corrupção: segundo a Transparency International, o Iraque é, a seguir à Somália e Birmânia, o país mais corrupto do mundo. O jornal American Foreign Affairs chama ao Iraque “um estado falhado”. Um exemplo disto é o facto do Iraque, um estado que tem a terceira maior reserva de petróleo, importar petróleo em larga escala. O governo está pronto a concessionar petróleo durante 25 anos a companhias internacionais (incluindo europeias), embora não tenha mandato nem autoridade legal para o fazer. Em vez de lhe serem pagas indemnizações pela enorme destruição causada nas infraestruturas, que envolve o prejuízo de biliões de rendas de petróleo, o Iraque está provavelmente de novo a ser roubado. Continua em larga escala a limpeza étnica contra Turcos, Cristãos, Sírios e Shabak. Kirkuk está a ser “Curdicizada” pela imigração maciça e colonatos ilegais (de inspiração israelita) e a sua história deturpada.
Estes dados, referidos em numerosos relatórios, foram apresentados durante uma sessão de esclarecimento no Parlamento Europeu organizada pelo Tribunal Brussells no dia 18 de Março, por um painel de especialistas iraquianos. No dia 19 de Março, houve uma sessão no Parlamento Belga onde um representante nacional, depois da declaração feita pelo Dr. Omar al-Kubaissi, um cardiologista e especialista de renome, admitiu honestamente que não fazia ideia da dimensão da catástrofe humanitária. Quem o pode acusar? Através dos media europeus ouvimos pouco ou nada quanto a esta calamidade humanitária. Nos jornais fala-se de eleições, dum ataque bombista ocasional, da situação política, dos resultados positivos da “vaga”, etc, mas quanto ao sofrimento do povo iraquiano…quase nada. Temos andado a dormir e arranjamos consolo: nos planos de Obama de retirada das tropas norte americanas; e assim, o assunto do Iraque fica de fora da agenda. A verdade é que nós queremos esquecer esta calamidade porque o Ocidente é o responsável. É certo que em primeiro e último lugar estão as administrações de Bush e de Blair, mas também a Holanda, Dinamarca, Hungria, Polónia e Itália fazem parte da coligação e são cúmplices naturais, enquanto Antuérpia foi um ponto de passagem vital para a invasão. Daí que também a Europa carrega uma responsabilidade pesada. Como é possível encobrirmos hipocritamente o impacto da guerra que ao princípio agitou a opinião pública mundial, apesar de circularem notícias revoltantes? Entretanto “Darfur” toca a alarme (e aliás justamente) duma espécie de holocausto Africano, mas os crimes contra a humanidade que roçam o “genocídio” no Iraque são varridos para debaixo do tapete. Se os meios de comunicação não fazem o seu trabalho, como pode a opinião pública ser alertada? Mesmo activistas e políticos bem intencionados não estão à altura. Este estilo de desinformação e a indiferença que a acompanha pode-se chamar uma forma de negativismo ou pelo menos uma forma de ignorância imoral.” Wir Haben es nicht gewusst”( não tivemos conhecimento disso…), diremos nós. Mas os povos dos países Árabes não nos vão perdoar. Que isto fique claro!
Lieven de Cauter, filósofo e fundador do Tribunal BRrussells
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