Sendo o sistema produtivo capitalista baseado na desapropriação a preço mínimo da força de trabalho da classe operária, não há nenhuma razão plausível para que sejam os operários os responsáveis pelo pagamento do fracasso no gerenciamento do capital.
A contribuição que o operariado dá para a manutenção do sistema capitalista — e o faz há mais de cem anos —, está compulsoriamente embutida nos baixos salários recebidos que permite agregar ao produto um valor de mais-valia [1], que gera um acúmulo de capital gigantesco por parte dos capitalistas.
Tomemos com exemplo a indústria calçadista. Essa indústria, por não permitir um alto nível de automação, emprega um número relativamente grande de operários.
Uma fabriqueta emprega, no mínimo, 150 operários. Esses operários produzem 1500 pares de sapatos por dia que são vendidos às loja por US$ 30,92 [2] o par; o custo da matéria prima para a produção de cada par gira em torno de US$ 8,83, o que produz US$ 22,09 que serão usados para pagar salários, impostos e depreciação de máquinas.
Cada operário produz 10 pares de sapatos por dia, logo, descontada a matéria prima, cada operário produz US$ 220,90 por dia. O salário pago pela indústria calçadista é, em média, US$ 220,85 por mês.
Como vemos, o operário com um dia de trabalho paga o seu salário de um mês. Os encargos sociais com os operários oneram em 100% o salário, o que daria mais US$ 220,65 por mês, Concluímos daí que com dois dias de trabalho o operário paga o gasto que o empresário tem com ele, já descontado o custo da matéria prima.
Dizem que no Brasil se trabalha dois meses por ano só para o pagamento de impostos... Vamos assumir isso como verdade. Então, dos 22 dias trabalhados no mês, 4 seriam para pagar impostos. Dos 22 dias úteis do mês, 2 são para pagar os operários e 4 para pagar impostos.
Considerando a vida útil de uma máquina de 5 anos, temos mais 2 dias por mês — exatamente, 1,6 dias — a título de depreciação dos equipamentos.
Com o resultado dos 22 dias trabalhados por mês, 8 são efetivamente gastos com a produção do bem industrial e os outros 14 dias são a mais-valia agregada ao produto e que se transforma em bem estar e riqueza do capitalista.
Esse cálculo pode ser aplicado, com pequenas variações para mais ou para menos a qualquer ramo de atividade comercial ou industrial dentro da sociedade capitalista.
A solução da crise
Os governos burgueses, sob a alegação de que a falência das indústrias ou dos bancos geraria desemprego e caos social, tem tentado salvar esse injusto sistema produtivo injetando recursos públicos, advindos dos impostos pagos maciçamente pelas classes trabalhadoras, em detrimento da saúde, da educação e da segurança. É evidente a injustiça social decorrente dessa política uma vez que com ela está se socializando o prejuízo de empresas que em momento algum pensaram em socializar os lucros.
Vamos tentar raciocinar em termos de reduzir a mais-valia agregada promovendo um aumento de salários e uma redução do preço final do produto.
Com essas duas medidas teremos um acréscimo significativo no poder aquisitivo dos salários o que levaria a um aumento de consumo que geraria aumento da produção e aumento do nível de empregos, e o capitalista ganharia mais pelo aumento do volume das vendas.
O inadmissível é que se queira fazer a classe operária arcar com as conseqüências de uma crise que só existe pela ganância de uma burguesia que tem no lucro a única razão de sua existência.
[1] Valor adicionado ao preço final do produto após terem sido pagos todos os custos de produção e a depreciação dos equipamentos.
[2] Cotação de R$ 2,264 por US$ 1,00
Um comentário:
E a tarefa agora dos revolucionarios é radicalizar, buscar uma saida para essa crise rompendo com o sistema capitalista, essa tem que ser a ousadia dos revolucionarios.
Abandonar as ideias que o capitalismo é reformavel em si mesmo. Na crise devemos apontar que a saida para as crises do sistema capitalistas é rompendo com o capitalismo. Interessante compararmos declarações e medidas dde enfrentar a crise que se estão tomando na America latina hoje, resulta valioso o exemplo Venezuelano, Equatoriano e Boliviano onde decidiram que não serão os povos os que pagaram por essa crise. Lamentavelmente alguns governos de "esquerda" no continente ainda tem as infantis esperanças de uma "terceira via".
Não se deram conta de que a crise financeira é crise alimentar, crise energética, crise moral, de valores, crise de civilização, a historia volta a bifurcar-se.
Marcus dutra
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