Além do Cidadão Kane

domingo, 15 de março de 2009

A Tenda que Resiste

Tradução de Joana S. Piedade
Fonte: TMI
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Umm Kamel viu-se um dia, às quatro horas da manhã, na rua, à porta da sua própria casa e sem os seus pertences. Sem aviso, quinze soldados entraram no quarto e expulsaram-na a ela e ao marido. Algemados, foram atirados para fora da casa onde viviam. As ruas de Silwan, em Jerusalém, ao redor da sua casa estavam todas bloqueadas e ocupadas por soldados israelitas. “Parecia que Jerusalém estava novamente a ser ocupada pelo exército”, conta Umm Kamel. Em conseqüência de todos esses atos o marido sofreu um ataque cardíaco.
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A história desta mulher tem corrido mundo e, como a própria diz “isto não é a minha imaginação, isto é a realidade, a verdade dos fatos. Nós não sonhamos que os israelitas cometeram e continuam a cometer estes atos contra nós, isto acontece realmente e esta é a minha situação atual”.
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Contudo, esta não seria a primeira vez que foi forçada a sair da sua própria casa. O mesmo tinha já acontecido em Jafa em 1948 e depois em propriedades da família em Jerusalém Ocidental. Pela terceira vez na vida tornou-se uma sem abrigo, uma refugiada, obrigada a assumir contra vontade a condição de nômade.
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Quando o marido, depois do ataque cardíaco e já muito debilitado, chegou à tenda que fazia às vezes de lar, teve que voltar de novo para o hospital com um segundo ataque. Numa semana morreu. Sem casa e sem companheiro, Umm Kamel voltou novamente para a tenda onde continua a viver e que já foi demolida por seis vezes. Aqui recebe visitantes internacionais, jornalistas e muitas pessoas a quem explica o que tem sido a sua vida. O fato de a tenda se ter tornado um símbolo de luta contra a opressão, estandarte contra a injustiça e uma tentativa de explicar ao mundo o seu sofrimento, torna-a um alvo a abater e Israel não a quer ver de pé. Reerguê-la “é a minha forma de resistência!”, defende.
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A sua situação não é única. Várias famílias estão a receber ordens do governo para sair das casas porque há um plano para que sejam demolidas uma a uma. O objetivo é demolir todo o bairro. Debaixo dos panos que compõem esta tenda abrigo, Umm Kamel é assaltada por muitas questões. “Como pode a comunidade internacional permanecer cega ao fato de haver alguém que é expulso da sua própria casa onde vive com a sua família? Como pode a comunidade internacional falar em direitos humanos e não agir, não levantar voz contra o que aqui se passa? Como pode, depois de tudo o que aconteceu, das demolições nesta área, a União Européia ter cimentado ainda mais as suas relações diplomáticas com Israel?”
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Original em Tribunal Iraque

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