A ficção da unipolaridade, que pretenderam – com certo êxito – vender-nos, tem batido cada vez mais, desde os próprios anos 90, com a existência real e continuação deste outro pólo que, apesar da debilidade e das deserções, se manteve firme na luta contra o capitalismo e sua expressão neoliberal, contra o imperialismo e sua política militarista, por um mundo de paz e de justiça, livre de exploração.
É bem verdade que, nos primeiros anos, ante um imperialismo embriagado de triunfalismo ao surgir hegemônico ganhando a Guerra Fria, as forças progressistas no mundo tiveram que assumir una tática defensiva, reivindicando os princípios de luta – em muito difíceis condições -, assim como a necessidade da permanência de suas estruturas organizadas mais conseqüentes.
Durante este breve tempo, na busca de muitos por novos paradigmas, avançaram concepções e explicações distorcidas da luta social, pretendendo criar «algo novo, distinto».
Assim, foram ganhando espaço os discursos assembleistas, onde tudo tem que ser discutido e tudo aprovado por todos em grandes assembléias onde todos participam, sem importar quanto dure a discussão e se sobre o que devia discutir-se já havia perdido a pertinência, só com o hipotético principio de discutir, ainda que realmente se produzisse uma inatividade das massas.
Os discursos horizontalistas, nos quais se expunha a suposta necessidade de eliminar toda forma de organização «vertical» por ser «antidemocrática», nada de presidentes, secretários gerais, coordenadores, chefes, responsáveis, delegados, juntas diretivas, direções nacionais, nada que desse noção a «hierarquia», gerando-se realmente uma paralisia das massas.
Os discursos basistas, onde nada devia ver-se, discutir-se ou resolver-se sem passar pelo filtro das bases – textualmente falando -, isto é, não era ter no centro do conjunto de decisões o interesse e as necessidades das bases (termo muito empregado em contraposição das massas para dar-lhe personificação beligerante), mas que fossem as bases as que decidissem tudo, claro, em grandes assembléias horizontais, sem importar o caráter e tipo de tema ou discussão; mas, ao não permitir-se nenhum tipo de estruturação, era impossível – adicionalmente ao já longo tempo transcorrido - a instrumentação prática em âmbitos geográficos ou políticos diversos.
Claro, a tudo isto se somou «o milagre» da Internet, um verdadeiro salto tecnológico nas comunicações, dando origem – ainda na busca de caminhos - à representação midiática da luta, a substituir a possibilidade das diversas formas de luta de massas – transversalizadas por um profundo combate ideológico - pela chamada «batalha de idéias» através de páginas Web que ilusoriamente transformaram as consciências e produziram as mudanças necessárias, isto é, as guerrilhas cibernéticas para a «guerra de quarta geração».
Apesar destas concepções e explicações distorcidas, as forças progressistas – e muitos dos desiludidos - corroboraram na prática concreta a necessidade de manter a luta, porque esta não tem limites nem fronteiras, que é necessário discutir e ganhar adeptos por todas as formas necessárias, mas, que devem existir estruturas organizativas que permitam ativar este potencial, operacionalizar e instrumentar linhas políticas de ação.
As históricas condições objetivas e subjetivas para a luta e as transformações revolucionárias mantém sua vigência.
As massas seguem sendo o fator fundamental, imprescindível, definidor nos momentos fundamentais da luta revolucionaria.
Mas, é o único fator? Não. As massas sem consciência de classe, sem organização, sem política clara, sem uma direção orgânica que expresse seus desejos, interesses e necessidades, não cumprirão sua função histórica.
Esse é um dos ensinamentos que emanam dos recentes acontecimentos em Honduras.
Esse é um dos ensinamentos dos que – por fim - deveríamos aprender no processo venezuelano.
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