Além do Cidadão Kane

sexta-feira, 10 de julho de 2009

A prova para Obama

Fontes próximas a Washington confirmaram que o Pentágono, através da missão militar (grupo militar) dos Estados Unidos em Honduras, esteve trabalhando com os militares golpistas envolvidos no golpe de Estado contra o Presidente Zelaya. O Comando Sul realiza anualmente cerca de 55 manobras com as forças armadas de Honduras
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Traduzido por Rosalvo Maciel
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Quando o presidente de Honduras, Manuel Zelaya, foi brutalmente seqüestrado em sua residência presidencial em Tegucigalpa na madrugada do domingo 28 de junho, o presidente de Estados Unidos, Barack Obama, desfrutava da paz e tranqüilidade do campo em Camp David, a residência de férias do chefe de Estado estadunidense. Enquanto o Presidente Zelaya era golpeado por soldados hondurenhos e introduzido à força em um avião sem conhecer seu destino, o presidente Obama tomava o café da manhã com o relaxante canto dos passarinhos do bosque no Estado de Maryland. E durante o desenvolvimento do golpe de estado em Honduras, que produz múltiplas violações dos direitos humanos, o seqüestro e a violência contra a chanceler de Honduras, Patricia Rodas, a brutalidade e seqüestro dos embaixadores de Cuba e Venezuela em Honduras e a tomada ilegal do poder por um governo de fato, ilegítimo, o Presidente Obama estava tomando uma decisão muito, muito difícil sobre a igreja na qual ele e sua família freqüentarão durante os próximos anos.
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A manchete de hoje, "Obama escolhe em Camp David a mesma igreja que freqüentava George Bush", está mais destacada na mídia estadunidenses do que esta manchete que, alem do mais, minimiza e manipula a verdade, "Chávez e seus aliados respaldam ao derrubado presidente de Honduras". Portanto, é obvio que a seleção da igreja onde a família Obama passará seus domingos durante os próximos quatro anos é muito mais importante do que um golpe de Estado em um país centro-americano. Agora também se entende por que as declarações da Casa Branca sobre o golpe em Honduras, efetuadas só por porta-vozes e não diretamente pelo presidente, foram tão ambíguas e comedidas. Obama não só estava de retiro no campo com sua família, como alem disso estava tomando decisões de alta prioridade sobre suas futuras atividades dominicais. Não tinha tempo para preocupar-se com assuntos alheios a seu domínio pessoal. Golpe?, qué golpe? Obama estava decidindo sobre sua própria vida e morte, porque segundo revela um artigo na Revista Time, "apesar de que Obama queria assistir a uma congregação em Washington, após visitar varias igrejas, decidiu que 'era incômodo' estar em um lugar público onde 'a gente' se acercava para vê-lo." Então, por isso teve que trasladar-se urgentemente a Camp David para isolar-se de seu povo.
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A questão é que Obama, apesar de que é o atual comandante-em-chefe do exército estadunidense e o presidente do império, todavia não controla diretamente toda a maquinaria imperial. Fontes próximas a Washington confirmaram que o Pentágono, através da missão militar (grupo militar) dos Estados Unidos em Honduras, esteve trabalhando com os militares golpistas envolvidos no golpe de Estado contra o Presidente Zelaya. O Comando Sul realiza anualmente cerca de 55 manobras com as forças armadas de Honduras. A missão militar da embaixada dos Estados Unidos em Tegucigalpa financia às forças armadas de Honduras aproximadamente com dois milhões de dólares cada ano, e isso não inclui os milhões de dólares que Washington envia através de outros programas de cooperação com Honduras e a grande inversão na base militar de Estados Unidos em Soto Cano, Honduras.
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Membros do congresso golpista de Honduras anunciaram que durante a semana anterior haviam celebrado reuniões com o embaixador dos Estados Unidos em Tegucigalpa, Hugo Llorens. Inclusive, um congressista hondurenho declarou que o embaixador queria que deixassem que se realizara a consulta programada para o domingo passado sobre um futuro referendum para a convocatória de una assembléia constituinte, porque "más adiante podemos resolver o problema da reforma constitucional, não se preocupem". Mas, segundo o congressista, não queriam esperar até novembro e permitir que Zelaya, junto ao povo, "tomasse decisões sobre o futuro do país".
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É certo que o governo dos Estados Unidos se uniu à declaração contundente da Organização dos Estados Americanos que condena o golpe de Estado e exige o regresso imediato do Presidente Zelaya ao poder. "Até hoje, os porta-vozes de Washington que têm minimizar a situação em Honduras, disseram que ainda não estão considerando a suspensão do apoio econômico e militar a Honduras no caso de que os golpistas se neguem a cumprir com a Carta Interamericana e os princípios democráticos. Será que concebem um golpe ao estilo do Haiti em 2004, Quando seqüestraram ao presidente Aristide e o levaram ao exílio na África antes de que o mundo se interara da brutal violação da democracia que estava ocorrendo no país caribenho?"Foi um avião estadunidense que levou a Aristide, escoltado por militares estadunidenses. E logo, o governo dos Estados Unidos junto à OEA, condenou a ruptura da ordem constitucional. Mas em lugar de trabalhar para o regresso de Aristide a seu posto legítimo como presidente do Haiti, apoiaram a um "período de transição" para restabelecer o Estado de direito e permitir um processo eleitoral "pacífico" durante o ano seguinte. Alem disso, enviaram tropas da ONU ao Haiti, que principalmente eram estadunidenses, para "garantir a paz e ordem" no país. Até hoje continuam ali.
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A Agencia Internacional de Desenvolvimento dos Estados Unidos (USAID) financia a grupos da chamada "sociedade civil" em Honduras com mais de 50 milhões de dólares ao ano. Através da National Endowment for Democracy (NED) e o Departamento de Estado, também canalizam milhões de dólares e ajuda estratégica aos principais partidos e organizações políticas em Honduras através do Instituto Republicano Internacional, o Instituto Democrata Nacional e outras agencias de Washington. Grupos como Paz e Democracia, que saíram à luz pública respaldando o golpe de Estado em Honduras, recebem parte desse dinheiro procedente dos autodenominados "promotores da democracia". Tanto como no caso da Venezuela, durante o golpe de Estado de abril 2002, o governo dos Estados Unidos financiou aos grupos envolvidos no golpe de Estado, e continuava financiando-os apesar de conhecer seus planos golpistas. Talvez não seja o "smoking gun" (ou a evidencia direta) que comprova a mão de Washington no golpe, mas é suficiente para demonstrar sua cumplicidade.
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O vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, declarou uma vez que o Presidente Obama se veria submetido a uma prova internacional durante seu primeiro ano no governo. A condenação de Washington ao golpe de Estado em Honduras terá que ser muito más forte que sua simples assinatura ao final da declaração da OEA. Se não declaram que suspenderão o apoio financeiro ao governo golpista em Honduras se este continua no poder, a "mudança" que tanto avalizou o presidente Obama com referencia à relação entre sua administração e a América Latina ficará como uma chantagem.
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Publicado em Chiapas.indymedia

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