Além do Cidadão Kane

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Os gorilas de Tegucigalpa não podem passar

Honduras sofreu um golpe militar típico do século passado latino-americano. Mas os gorilas e oligarcas de Tegucigalpa estão constatando que a história não se repete.

A quartelada tem traços bem conhecidos dos latino-americanos. Seu estopim foi a decisão do presidente Manuel Zelaya e dos movimentos sociais de consultar o povo sobre a convocação de uma Assembléia Constituinte. É um confronto entre urnas e tanques.

Em reação, o exército tomou as ruas, invadiu a residência presidencial, sequestrou Zelaya e tirou-o do país, silenciou a mídia pró-legalidade, cortou a luz. Um parlamento agachado perante os gorilas escolheu um presidente fantoche, Roberto Micheletti.

Não faltou sequer um cadáver, o de Rosel Ulises Peña, 30 anos. Teme-se que os golpistas não pararão nele.

Zelaya tem estado à altura do desafio que a história lhe impôs. Fez ''um chamado à desobediência civil'' contra ''uma elite voraz que faz Honduras retroceder''. Aos 57 anos, vindo de uma família abastada e de um partido tradicional, nem por isso vacila: fica do lado do povo.

Este sai às ruas numa resistência que se agiganta. Escolheu como ponto de concentração a Casa Presidencial no centro de Tegucigalpa. Ergue barricadas. Desafia os fuzis e interpela sem medo os soldados. Desconhece o toque de recolher. Denuncia as mentiras da mídia mercantil. Promete para terça-feira uma greve geral contra o golpe.

Outro sinal dos tempos é o isolamento externo dos gorilas. Nenhum país reconheceu a deposição de Zelaya. Todas as nações latino-americanas, a Alba, a OEA, agora também a ONU, a condenam.

Aqui merece destaque a reação do presidente brasileiro. ''Nós achamos que não tem contemporização, não tem meio termo, nós temos que condenar este golpe. Zelaya ganhou as eleições. Portanto, ele deve retornar à presidência. É a única condição para que a gente possa estabelecer relações com Honduras. Se Honduras não rever a posição, vai ficar totalmente ilhada'', disse Lula.

Em outros termos e noutro ritmo, o governo americano também condenou o golpe. De início, Barack Obama apenas declarou-se ''consternado'' e pediu ''diálogo pacífico'' entre as partes. Mas agora a secretária Hillary Clinton especifica que houve ''um golpe de Estado'' e Zelaya é o único presidente de Honduras, embora insista no ''diálogo'' e negue-se a sustar a ajuda ao regime imposto.

Pelo menos já não é como em 2002, quando o governo Bush reconheceu imediatamente a ditadura de 11 de abril na Venezuela, de triste e fugaz memória. A nova atitude terminou de isolar a gorilada de Tegucigalpa e facilita sua derrota.

O golpe hondurenho tem implicações em toda a América Latina. Atesta que a marcha libertadora da região enfrenta inimigos obstinados e brutais, dispostos a tudo para manter a velha ordem oligárquico-dependente, cujo fim é para eles o fim do mundo.

É hora de solidariedade ao povo hondurenho e seu presidente. Nesta terça-feira, as entidades da CMS (Coordenação dos Movimentos Sociais) brasileira levam ao Consulado de Honduras em São Paulo uma nota conjunta de protesto. O exemplo precisa ser seguido. No fundo, é a causa de todo o Continente Rebelde que está em jogo.Os gorilas de Tegucigalpa não podem passar.
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Original em Vermelho

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