Além do Cidadão Kane

quinta-feira, 2 de julho de 2009

James Petras: Washington quer Zelaya de volta mas inabilitado políticamente

Por: Aurelio Gil Beroes
Traduzido por Rosalvo Maciel

O governo dos Estados Unidos esteve por trás do golpe de Estado ao presidente José Manuel Zelaya, mas o repudio mundial a esse feito o tem posto a negociar com os chefes militares de Honduras, a possibilidade de que o presidente deposto reassuma seu cargo, mas em condições tais que lhe seja muito difícil continuar a línea de relações que mantém com os países da Alba e, em particular, com o presidente Chávez.

Assim considerou o analista e acadêmico estadunidense, James Petras, em entrevista exclusiva à Agencia Bolivariana de Noticias, sobre a situação que se vive em Honduras.

A seu juízo, o governo norte-americano está implicado no golpe de Estado em Honduras: "Em primeira instancia, o governo norte-americano estava implicado no golpe. Desde muitos ángulos podemos fazer a análise. Primeiro está o fato de que os militares hondurenhos não funcionam sem consultar aos assessores presentes nesse país".

Petras disse que os assessores estadunidenses estão em todos os níveis da hierarquia militar hondurenha. "Isso primeiro; estruturalmente é impossível que os militares hondurenhos movam um dedo sem consultar os assessores dos Estados Unidos".

"Segundo – explica – o governo de Obama está muito irritado pelo fato de que Zelaya está em aliança com Chávez e tomando medidas econômicas de ajuda e em associação com a Alba".

Assinala o analista que até agora o Governo de Obama não reconheceu que houve um golpe militar "e não cortou nenhuma ajuda nem relações com o governo golpista".

Disse que todas as medidas adotadas até agora pelo Governo de Washington, são reações forçadas pelo repudio mundial ao golpe.

"Em principio – pontualiza - não denunciaram o golpe e foi só depois que toda a região da América Latina condenou o golpe, depois de muitas vacilações e para não ficar isolados, que tomaram a posição das Nações Unidas, OEA e demais organismos internacionais, mas sempre com muita reticência porque não querem debilitar a seus aliados que são os militares e a oligarquia".

Indicou que nas discussões nas Nações Unidas sobre o tema, a delegação dos Estados Unidos prolongou as deliberações por quatro horas, para moderar a declaração final.

E acrescenta que enquanto os países da América Latina retiram seus embaixadores, Washington mantém seu embaixador.

"Agora estão tratando de evitar que Zelaya volte ao país como presidente e, se voltasse, o faria em uma situação institucional que debilita sua política em aliança com Chávez. Não há duvida de que Obama pensou que podia dar-se o golpe sem maiores conseqüências".

"Agora outra vez temos um efeito bumerangue. Cada vez que Obama trata de projetar o poder estadunidense, seja no Afeganistão, ou em relação com a política econômica, o plano de estímulos financeiros ou o que seja, lança a política e depois tem que retroceder, porque no momento atual não é possível que possa seguir a política imperialista dos presidentes anteriores ", expressa.

- Qual poderá ser o desenlace desta situação quando Zelaya se apresentar sábado em Tegucigalpa?

- Tudo dependerá do grau de apoio que sigam prestando os Estados Unidos. Se seguem sem caracterizar a esse Governo como golpista, e seguem com a ajuda e mantém o embaixador, creio que pode fracassar a visita de Zelaya.

Petras faz uns segundos de pausa e continua: "Eu creio que estão negociando com os golpistas agora, tratando de minimizar os efeitos da visita; tratando de separar a OEA e os presidentes do Equador e Argentina de Zelaya. Penso que tratam de prender Zelaya isso vai provocar uma grande crise em todo o continente e isso poria os Estados Unidos em uma posição muito incomoda".

Insiste na importância do apoio dos Estados Unidos ao governo golpista, porque a seu juízo, Honduras pode viver sem um assento na OEA, mas não sem 85% de seu comercio com o país do norte.

"Mas muito dependerá do grau em que Washington consiga debilitar completamente a Zelaya, para que volte como um presidente impotente, que não possa lançar nem a consulta nem o referendo. Eu creio que Washington está buscando isso".
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Original em Tribuna Popular

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